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Esta Semana

Esta Semana #07 e #08

Duas semanas de uma vez, ou seja… «esta quinzena». A balda da semana passada não foi por falta de assunto, e também não me vou armar em coelhinho da Alice e dizer que foi por falta de tempo, já que a semana teve exactamente a mesma quantidade de horas que as anteriores. Não, não foi por falta, mas sim por excesso. Excesso de emails, e trabalho e deadlines, excesso de consultas, aulas pré-parto e imagens de quartos de bebé no Pinterest. Também excesso de coisas boas, como cinema, noites de jogatana ou café com as amigas para pôr a conversa em dia. Acima de tudo, um excesso de coisas a acontecer nos próximos três meses que deixam a minha cabeça à velocidade de um iPhone4 no qual se instalou o sistema operativo do iPhone10: está muito lenta e fica sem bateria num instante, portanto.

Venham então as novidades.

Dream job

Chega amanhã às livrarias a primeira capa que ilustrei para a colecção infantil da Alice Vieira, a 32ª edição (!) do maravilhoso Rosa, minha irmã Rosa.

Rosa, minha irmã Rosa

Pode dizer-se que é um trabalho de sonho, embora eu saiba bem que a Patrícia de 10 anos, que passava a vida enfiada nos livros da Alice Vieira, não sonhava que a viria a conhecer e ainda menos ser autora das capas dos seus livros. Mas estar refastelada no sofá a um dia de semana, enrolada numa manta com uma caneca de chá, a reler o «Chocolate à Chuva», e poder dizer, com toda a honestidade, que estou a trabalhar… Sei reconhecer a sorte que tenho na vida.

O mercado infanto-juvenil é onde me sinto simultaneamente mais confortável e mais desafiada. Confortável, porque me recuso a aceitar os meus quarenta anos, (perdão, quarenta e um) e continuo a ver-me como uma miúda, com gostos de miúda. Desenhar bonecada é o que gosto realmente de fazer. Desafiada, porque depois de tanta ilustração para esta classe de livros, é difícil não me repetir, tentar manter “o meu estilo” (o que quer que isso queira dizer) e ao mesmo tempo fazer algo diferente do que está para trás. Talvez por isso, e por me sentir esmagada pelo peso da responsabilidade de fazer as capas de livros tão acarinhados por várias gerações, esta foi, de todas as capas que alguma vez fiz, a que me demorou mais. (Felizmente, estou a trabalhar com a editora mais compreensiva e paciente do mundo. Mais uma vez, sei reconhecer a minha sorte, tenho trabalhado com editores fantásticos.)

Por isto tudo, estou muito feliz de a ver impressa, a saltar para as mãos de tantas crianças para as quais esta vai ser “a capa”. E siga para bingo, que ainda tenho mais umas duas dezenas de capas para fazer.

 

Nomeação para os prémios SPA

Por falar em editoras fantásticas e notícias que me deixam feliz… Depois de tantos anos a trabalhar com Rosário Alçada Araújo, editora, ilustrei finalmente um livro da Rosário Alçada Araújo, escritora. Lançámos «Num tempo que já lá vai» em Setembro, e acabam de anunciar que é um dos três nomeados para Melhor Livro Infanto-Juvenil no Prémio Autores 2018, atribuído pela SPA. É a minha primeira nomeação para o que quer que seja, e ainda por cima por um livro com uma história tão bonita e que tanto gostei de ilustrar.

Num tempo que já lá vai

Os outros livros nomeados nesta categoria são «O Museu do Pensamento» de Joana Bértholo, com ilustração de Pedro Semeano e Susana Diniz, da Caminho e «Poemas para as quatro estações» de Manuela Leitão, com ilustração: Catarina Correia Marques, da Máquina de voar. Os prémios serão entregues numa gala a decorrer no dia 20 de Março no Grande Auditório do CCB, e a transmitir em directo pela RTP2. Consultem aqui a lista com todos os nomeados.

Menos é mais

A propósito de prémios, está na altura de correr às salas de cinema para ver os nomeados aos Oscars. Ou então nem por isso, que há filme de super-heróis em cartaz, e por estes lados não se falha um. (À excepção da Liga da Justiça, já que o Pedro se recusa a aceitar aquela versão do Flash.)

O Pantera Negra parecia, à partida, diferente dos restantes filmes de super-heróis: há algo de refrescante na concept art e belíssimo guarda roupa desenhados à volta do afro-futurismo; o elenco, quase todo afro-americano, é magnífico; é bom sentir a força e importância que deram às personagens femininas; tudo isso nos faz pensar que estamos perante algo de verdadeiramente diferente. Ao chegar ao ao fim, no entanto, essa impressão já se diluiu, perdida na enxurrada de efeitos especiais, realização frenética e história previsível que faz com que todos os filmes da Marvel Studios pareçam mais do mesmo.

Para restaurar o equilíbrio, fomos ontem ao CCB ver uma obra prima com cinquenta anos, o Aconteceu no Oeste. Paisagens amplas, planos longos, enquadramentos perfeitos, música genial… foi uma autentica aula de composição e timing. Nada ali é deixado ao acaso. Chegámos ao fim sem saber para onde correram as quase três horas de duração do filme, e com vontade de emoldurar umas quantas frames para as nossas paredes.  Eu sei, é super injusto sequer comparar um filme como o Pantera Negra ao mais reverado de todos os westerns, mas, na altura, o spaghetti western também era tido como uma categoria menor do cinema, e não só não ganhou, como nem sequer foi nomeado para o Oscar de melhor cinematografia. Nem para Oscar nenhum, de onde se percebe que a cerimónia já é pateta há pelo menos cinquenta anos.

Aconteceu no Oeste Aconteceu no Oeste Aconteceu no Oeste Aconteceu no Oeste

Workshop de BD na Gateway

A Gateway City Comics convidou-me para dar dois workshops de BD para a miudagem nas suas instalações em Alcântara. Divididos em dois grupos, dos 6 aos 9 anos e dos 10 aos 12, vamos inventar personagens, imaginar histórias, desenhar muito e acabar as quatro sessões com um pequeníssimo livro de Banda Desenhada.

Vai decorrer no mês de Março, e no momento em que escrevo isto, ainda há algumas vagas para cada uma das turmas. Saibam mais aqui.

Workshop BD

O cavalo de Tróia é um gato Maltês e outras histórias

Depois de muito nos provocar com os seus anúncios de datas de anúncios, lá chegou o dia de saber a nova localização do Trojan Horse was a Unicorn, e a resposta foi, como já era esperado, Valetta, em Malta. Pessoalmente, faz-me pouca diferença, já que, com um bebé de quatro meses, eu sabia que este ano não querer participar. Já foram anunciados alguns nomes de peso, como Joe Madureira e Jorge R. Gutiérrez, e tenho a certeza que vai ser épico, como sempre. Mas deixa-me muito triste ver um evento destes sair de Portugal.

THU 2018 Malta

Ainda na categoria de eventos a que vou ter de faltar este ano, fiquei a saber que o Urban Sketchers Symposium este ano está de regresso a Portugal, e vai ter lugar em Julho, no Porto. Participei na segunda edição deste evento dedicado ao desenho ao ar livre, que aconteceu em Lisboa em 2011, e adorei a experiência. As inscrições já estão abertas, e se eu pudesse estava lá caída, especialmente porque o Porto tem tantos sítios bonitos para se desenhar.

A quinzena foi fértil em anúncios, mas finalmente, a coisa correu bem para o meu lado. A organização da ComicCon PT veio confirmar os rumores de que o evento deste ano se vai realizar cá em baixo, e embora eu tenha gostado da nossa peregrinação anual ao Porto nos últimos anos, confesso em 2018 me vai dar jeito. Como era de esperar, anda aí meio mundo a reclamar, ainda para mais quando o espaço escolhido é o Passeio Marítimo de Algés, ao ar livre, e o modelo vai ter de ser obrigatoriamente adaptado. Eu faço parte do outro meio mundo, o que ficou contente com a notícia, porque não me apetece mexer o traseiro.

CrossOver

Além dos artigos semanais sobre ilustradores de referência aqui no estaminé (esta quinzena, um sobre Mead Schaeffer e outro sobre a A BrandyWine School), o Pedro acaba de publicar um artigo sobre a passagem do Overwatch para BD, na sua rubrica CrossOver no site da Gateway City Comics. Há pessoas aqui no Abelardo que contribuem mais do que outras…

Uma boa semana (ou quinzena, quem sabe) para todos!

– Patrícia

 

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Pedro Potier

A BrandyWine School e a tradição da ilustração americana

Para falarmos da Brandywine School, temos de primeiro falar de Howard PyleNo final do séc. XIX, Howard Pyle era um bem sucedido ilustrador e pintor, e também autor de vários livros e artigos em diversos periódicos. Publicou seu primeiro romance, Otto of the Silver Hand, em 1888.  O romance clássico The Merry Adventures of Robin Hood, entre outros, ainda continua em circulação. Muitas das suas obras, incluindo um conjunto de quatro volumes sobre o rei Arthur, baseavam-se em temáticas europeias medievais. Ilustrou histórias de aventuras e temas históricos para revistas como a Harper’s Magazine e a St. Nicholas Magazine. Também ficou conhecido pelas suas ilustrações de piratas e pode-se até dizer que é responsável pelo estereótipo moderno do aspecto de pirata. O seu romance Men of Iron foi adaptado ao cinema com o título The Black Shield of Falworth (1954).

A escola

Em 1890, Pyle decidiu dedicar-se ao ensino.

Como o advento de melhores técnicas de impressão, surgia uma necessidade de treinar artistas capazes de responder aos desafios colocados pelas publicações periódicas, agora com reproduções de maior qualidade. Howard Pyle começou por dar formação na Drexel University, mas eventualmente quis afastar-se do constrangimento da educação formal da época e começou a dar aulas de verão na escola Turner Mills em Chadds Ford, junto ao rio Brandywine. Eventualmente, abriu a sua própria escola nessa zona, The Howard Pyle School of Illustration, e os seus alunos começaram a ser conhecidos como os ilustradores da escola de Brandywine.

Pyle criou esta escola com vários intuitos. A ideia era que os seus alunos se tornassem artistas bem sucedidos, quer em termos profissionais, quer financeiros. Além disto, esperava desenvolver um estilo de pintura intrinsecamente americano, baseado nas vivências das pessoas, na história e nas paisagens do país.

O sucesso do seu método pode ser avaliado pela longevidade do seu legado, perpetuado não só pelos inúmeros trabalhos do próprio Pyle, como pelos dos seus discípulos. Durante os seus anos na Brandywine School, muitos foram os alunos que estudaram com ele, alguns dos quais vieram a ter carreiras tão ou mais influentes que as do mentor.

Artistas como N.C.Wyeth, Frank E. Schoonover, Harvey Dunn, Clifford Ashley, Ethel Franklin Betts, Stanley M. Arthurs, Elizabeth Shippen Green, Violet Oakley e Jessie Willcox Smith, formaram a primeira vaga significativa de ilustradores comerciais norte americanos e o seu trabalho definiu o rumo e a inspiração das gerações seguintes.

O legado

Howard Pyle continuou a gerir a escola até 1910 e depois da sua morte, em 1911, os seus alunos continuaram a sua tradição, tendo Stanley M.  comprado a escola e mantido a sua actividade até 1950.

Além de desenvolverem carreiras bem sucedidas, vários alunos formaram também estúdios em nome próprio, onde deram seguimento aos conceitos e métodos criados por Howard Pyle. N.C.Wyeth e Frank E. Schoonover, por exemplo, criaram pequenos estúdios, mas no entanto destacaram-se especialmente pelo seu trabalho, que merece um estudo individual e mais detalhado. Foi sobretudo com Harvey Dunn, nas várias escolas que formou e onde leccionou, que o legado de Howard Pyle foi continuado.

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Ilustração

Mead Schaeffer e o legado da ilustração americana

Mead Schaeffer foi um pintor e ilustrador norte americano nascido 1898 em Freedom Plains, NY, cujo trabalho como ilustrador de clássicos como Moby Dick, O Conde de Montecristo e Os Miseráveis o fizeram destacar-se dos demais artistas.

Tendo crescido em Springfield, Massachusetts, Schaeffer inscreveu-se no Pratt Institute no fim do ensino secundário. Os seus primeiros trabalhos a óleo, com  cores lustrosas aplicadas em grandes quantidades, são reminiscentes de N.C. Wyeth e Dean Cornwellassim como do seu professor Harvey Dunn um dos mais consagrados pintores e ilustradores da época. Este facto faz de Schaeffer um “neto” de Howard Pyle, o formador de Dunn, e um sucessor da tradição de pintura americana começada na Brandywine School.

Nos seus primeiros trabalhos de ilustração, distinguiu-se através de composições e posicionamento das figuras cuidadosamente estudados, assim como pelo uso da luz e cor.
Durante anos Mead Schaeffer ilustrou um a dois livros por ano, bem como mais de duas dezenas de artigos para revistas, tendo viajado frequentemente na busca de referências para as suas obras. Além de ilustrar os clássicos da literatura, Schaeffer trabalhou para muitas das revistas da época, como Cosmopolitan, American Magazine e The Saturday Evening Post.

Por volta de 1930, Schaeffer viveu em Arlington, Vermont e, nessa altura, talvez em parte por influência de Norman Rockwell, de quem era amigo e vizinho, começou a focar-se mais em temas do quotidiano e pessoas do dia a dia. Porém, o seu método de trabalho divergia do de Rockwell, visto ele evitar referências fotográficas, preferindo pintar as pessoas de imaginação. “A câmera tem tudo, excepto aquilo que precisas”, Schaeffer terá dito.

No início da 2º Guerra Mundial, Schaeffer e Rockwell viajaram até Washington onde tentaram arranjar fundos para um conjunto de pinturas que retratavam o esforço da guerra. No entanto, foi na viagem de regresso que, ao passar pela Pennsylvania, obtiveram o apoio que procuravam. Ben Hibbs do Saturday Evening Post, gostou das propostas dos dois artistas e encomendou-lhes um conjunto de ilustrações para a revista. O trabalho de Schaeffer resultou numa série de capas comemorativas das forças armadas Norte Americanas.

Ao fim de muitos anos a viajar pelos Estados Unidos, a fazer capas para o Post, aposentou-se na sua casa em Vermont e, literalmente, dedicou-se à pesca e à pintura, mas como hobbie.

Mead Schaeffer morreu de ataque cardíaco em 1980, durante um almoço na Society of Illustrators em Nova Iorque.

 

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Esta Semana Exposições

Esta semana #06

Ora bem, o que aconteceu na sexta semana deste belo 2018? (Esta história de andar a contar semanas é mesmo coisa de grávida.) Bom, entre a trabalheira do costume, começámos um curso de preparação para sermos pais, embora esteja convencida que nada nos prepara, e passámos o fim de semana com uma criança de 10 anos, o que também é uma espécie de treino.

Claro que, apesar da idade, a nossa sobrinha Helena não nos prepara para nada de terrivelmente difícil. Ela é bem comportada, responsável, atinada, e ao mesmo tempo engraçada e divertida (e extremamente gozona como o pai). Não dá trabalho nenhum e sair com ela é basicamente o mesmo do que sair com os nossos amigos “adultos”. Vamos precisar de arranjar uns terroristas de verdade se quisermos realmente enfrentar o que pode vir aí.

Vamos ao espaço

Planetário Calouste Gulbenkian

A nossa primeira paragem foi no Planetário Calouste Gulbenkian, onde já não ia há muitos anos, e onde a Helena nunca tinha ido. Na bilheteira, aconselharam-nos o filme “Vamos ao espaço“, mais apropriado para a idade dela, e, se o achámos um bocadinho lento e preguiçoso, especialmente nos grafismos e ilustrações, para ela foi perfeito e saiu de lá com vontade de regressar assim que possível. “Quando for mais velha, vou escrever ao presidente da câmara, não, ao presidente de Portugal, e dizer-lhe que se as aulas fossem todas assim, nós aprendíamos muito mais!”

A programação do Planetário é bastante variada, e também nós ficámos com vontade de voltar em breve, com ou sem criançada, para apanhar uma daquelas sessões em que nos mostram mais do que o céu que conseguimos ver numa noite limpa no meio do Alentejo.

M. C. Escher

Pedro e Helena na perspectiva forçada.

Depois do filme, atravessámos para o outro lado do CCB e demos um pulo ao Museu de Arte Popular, onde está patente, até ao fim de Maio, a exposição Escher Lisboa. A exposição valeu bem a eternidade passada na fila para os bilhetes (que podiam ter sido comprados com antecedência, online…). Sempre fui fascinada pela magia das gravuras de M. C. Escher, imagens onde nos podemos perder por longos momentos a descobrir todos os detalhes,  tentar fazer sentido dos mundos impossíveis e apreciar o rigor e minúcia com que tudo foi construído.

A exposição, muito completa, atravessa todos os períodos da sua carreira. As gravuras iniciais, ainda longe das ilusões de óptica, dão a perceber o seu imaginário, precisão técnica, paciência infinita e amor ao pormenor. As explorações da percepção visual e dos conceitos matemáticos de infinito e de divisão do espaço são mind-blowing (Help! Alguém me arranja uma tradução melhor do que “explodem a nossa mente”?) e distinguem-no de todos os outros artistas. A recta final da exposição mostra como influenciou o cinema, a televisão, e inúmeros outros artistas.

A parte mais interactiva da exposição torna-a muito apelativa aos mais pequenos, embora me pareça que a Helena a teria apreciado de igual modo sem todas as brincadeiras. Também a tornou quase impossível de apreciar num sábado à tarde, tal era a confusão. Não a percam, mas sejam mais sensatos do que nós e vão durante a semana.

Curtinhas

Resta-me desejar-vos uma feliz semana de Carnaval e dia de S. Valentim, ou como eu lhe chamo, semana de ficar quieta em casa (que ainda tenho pelo menos um ano até dar nisto).

-Patrícia

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Arte Ilustração

Dean Cornwell e a idade de ouro da ilustração americana

Recentemente tenho ocupado os meus parcos tempos livres a pesquisar pintores e ilustradores dos quais só conhecia uma ou duas obras, mas ignorava a maior parte do trabalho. Do meu interesse já resultou uma viagem a Londres para ir ver em pessoa, algumas obras de John Singer Sargent  e de John William Waterhouse (o mesmo do quadro das ninfas, sim).

Apesar de ter uma admiração enorme por Norman Rockwell, de uma forma geral desconhecia a maior parte dos outros artistas seus contemporâneos, portanto comecei a procurar (re)descobrir alguns ilustradores e pintores da fase de ouro da ilustração americana.

Dean Cornwell foi um pintor Norte-Americano nascido em 1892, e dominou grande parte do campo da ilustração e da pintura mural durante a sua carreira.

Começou a sua carreira como cartunista no Louisville Herald, tendo-se mudado, em seguida, para Chicago, onde estudou no Chicago Art Institute enquanto começou a colaborar com o Chicago Tribune. No instituto, Cornwell conheceu e estudou com o proeminente professor Harvey Dunn, a quem se juntou quando este se mudou para Nova Iorque para formar um estúdio-escola. Eventualmente, o sucesso de Dean Cornwell fez com que a sua carreira disparasse ele acabasse por desenvolver o seu próprio estilo.

Na altura Dean Cornwell colaborou com todas as principais revistas nos Estados Unidos, tendo produzido trabalhos para Cosmopolitan, Harper’s Bazaar, Redbook, e Good Housekeeping, entre outras. Em 1926, assinou um contrato a longo termo com a revista Cosmopolitan pela quantia astronómica, à época, de 100.00 dólares anuais. Era uma presença assídua na ilustração americana no início do século 20, contribuindo ainda com imagens para as obras de Pearl S. Buck, Lloyd Douglas, Edna Ferber, Ernest Hemingway, W. Somerset Maugham e Owen Wister. A sua popularidade levou a que lhe dessem a alcunha de Dean of Illustrators.

Por volta de 1927, Dean Cornwell decidiu estudar e produzir pinturas murais e para esse efeito viajou para Inglaterra, onde estudou com o famoso muralista Frank Brangwyn durante três anos. Quando regressou aos Estados Unidos, Cromwell pintou um mural para a Biblioteca Pública de Los Angeles, uma pintura gigantesca que conta a história da Califórnia e demorou 5 anos a ser acabada. Pintou ainda murais em Nova Iorque, no edifício das Eastern Airlines (hoje o 10 Rockefeller Plaza), o Raleigh Room no Hotel Warwick, e o mural da General Motors na Feira Mundial de  1939. Também pintou a sede da New England Telephone (agora Verizon) em Boston, o Davidson County Courthouse e o Sevier State Office Building no Tennessee, assim como o Centre William Rappard em Geneva, na Suíça. Cornwell afirmou que nunca fez muito dinheiro na sua carreira como muralista, e que sempre que precisava de dinheiro, retomava a sua carreira como ilustrador.

Dean Cornwell ensinou na Art Students League em Nova Iorque e foi presidente da Sociedade de Ilustradores de 1922 até 1926. Recebeu vários prémios pelos seus trabalhos e a sua pintura “Washing the Savior’s Feet, inicialmente encomendada para a revista Good Housekeeping, foi aceite na exposição da Royal Academy Britânica. Em 1940 foi aceite como académico na National Academy of Design, depois de um período como associado, e foi presidente da Sociedade Nacional de Pintores de Murais.

Em 1959 entrou no Hall of Fame da Sociedade de Ilustradores.

Dean Cornwell morreu em 1960, tendo deixado um legado de milhares de obras, entre ilustrações, pinturas e murais para os mais diversos meios.

Bonus: O artista Francis Vallejo disponibilizou uma colecção de scans de varias revistas ilustradas por Dean Cornwell, vale bem a pena. Dean Cornwell- magazine scans

 

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Esta Semana Ilustração Livros TV / Cinema

Esta semana #05

E, sem saber como, já é segunda-feira* outra vez. E o que aprendemos esta semana? Aprendemos que não é boa ideia gabarmo-nos publicamente de dormir tão, tão bem, sob pena de automaticamente passarmos uma noite em claro e começarmos a segunda-feira a desejar que ainda fosse sábado. Oh, quem é que eu estou a enganar? Desejo sempre isso, tenha dormido bem ou mal.

Continuamos imersos em a) novidades e projectos super espectaculares que ainda não podemos partilhar; b) trabalho banal e burocrático que não vos interessa para nada. Ainda assim, consegui reunir algumas coisinhas para partilhar, evitando outro post com gatos.

No shit, Sherlock!

O Ricardo Venâncio trouxe-me finalmente o desenho que lhe tinha encomendado há uns tempos, um Sherlock Holmes versão Alan Rickman, para a minha colecção de Sherlocks. (Uma colecção de um. Por enquanto!)

Sherlock Holmes , Ricardo Venâncio

“Então mas o Alan Rickman interpretou o Sherlock Holmes?”, perguntam vocês, sem se conseguirem lembrar desse filme. É uma referência obscura, mas é verdade, porque não foi em filme. Foi no teatro, mas infelizmente não tive o prazer de assistir porque… ainda não era nascida. Foi uma excelente surpresa, porque o Venâncio sabe o quanto eu gostava do actor, que me partiu o coração ao deixar este mundo exactamente no dia dos meus anos, em 2016.

Aproveito aqui para vos convidar a visitar a página do Ricardo Venâncio no BeHance, acabadinha de inaugurar. E desejem-lhe um feliz aniversário, que faz hoje 40 anos (criança!).**

Quanto ao Sherlock, enquanto espero para engordar a minha colecção de originais, deixo aqui o link para os 24 finalistas do concurso de ilustração da The Folio Society e da House of Illustration.

Os livros do Artur

Quando chegar ao mundo, o Artur vai herdar uma boa quantidade de livros infantis, que tenho vindo a coleccionar muito antes de saber que ia ter filhos com quem os partilhar. Here we are, do meu autor favorito, Oliver Jeffers, é o primeiro que compramos especificamente para ele. Foi escrito para apresentar o planeta ao seu primeiro filho Harland, e vai servir de guia ao Artur também. E é uma delícia.

Here we are, Oliver Jeffers

Here we are, Oliver Jeffers Here we are, Oliver Jeffers

Fantastic beasts and where to find them

A descoberta da semana, no meio de um zapping, foi uma pequena reportagem na SIC Notícias que me deixou fascinada: um casal belga trouxe para o Fundão uma raça de porcos proveniente da Hungria, o porco Mangalica. E o que tem este porquinho de especial? Tem muita gordura, gosta de cenouras, é muito resistente ao stress e, acima de tudo, ao frio. Porquê? Porque é peludo, parece uma ovelhinha em forma de porco. É só isto.

Porco Mangalica

Senti-me obrigada a fazer uma ilustração do bichinho, o que levou a atrasar o jantar e cancelar os planos de ir ao cinema. Mas se querem ver com os vossos próprios olhos, podem googlar o Porco Mangalica que não se vão arrepender.

I have a bad feeling about this…

Ontem foi noite de Super Bowl, lá pelas Américas, e como sempre, aproveitaram o intervalo com mais audiências televisivas do ano inteiro para passar trailers dos filmes e séries mais aguardados.

Ficámos assim a saber que o SOLO: A Star Wars Story irá estrear a 25 de Maio, o que fará dele provavelmente o último filme que iremos ver antes do Artur nascer. Ou, se ele for apressadinho, o primeiro que não iremos ver por causa dele. (Acho que pirataria devia ser legalizada para pais de recém nascidos. Só uma ideia…)

Não sei bem o que pensar do actor principal (não pode ser fácil encarnar o Harrison Ford…) mas… Olha o Danny Glover! Olha a Emilia Clarke! Olha a Thandie Newton! Estou em pulgas.

E por falar em Emilia Clarke e Thandie Newton, já que não temos direito a Daenerys este ano, regressa o Westworld, que também entrou nesta moda de nos fazer esperar mais de um ano pela nova temporada. E que também teve direito a Super Bowl Ad.

https://youtu.be/qUmfriZoMw0

Enquanto Abril não chega, sempre nos vamos entretendo com o festival de concept art que é o Altered Carbon. Não vou fazer uma crítica à série porque tenho passado a maior parte dos episódios a dormitar. Os milhares de dólares em efeitos especiais que tenho desperdiçado! Tenho de me resignar à minha condição de grávida sonolenta, mas se fosse tão bom como a Marvelous Mrs. Maisel, talvez conseguisse resistir melhor ao João Pestana.

Curtinhas

  • Inaugura na quinta-feira, dia 9, na Lourinhã, o DinoParque, o maior museu ao ar livre de Portugal. Também reabriu o Museu da Lourinhã, remodelado e com novas colecções, depois de terem transferido os fósseis de dinossauros para o parque. Tínhamos ideia de fazer uma visita, mas numa semana de planos adiados, acabámos por passar a tarde de Domingo a ver as ondas da Praia da Areia Branca.
  • Inaugurou também, no domingo, a nova temporada do CinePop, mesmo aqui ao lado no Fórum Roma. Começaram com Exterminador Implacável, vale a pena dar uma vista de olhos pelo programa.

Boa semana!

– Patrícia

 

*Sim, já é terça. Ontem não consegui acabar o artigo antes de cair para o lado de sono.
**Fazia. Ontem dia 5 de Fevereiro. Também não lhe dei os parabéns. O dia correu mesmo bem.

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BD Patrícia Furtado Pedro Potier

Diavol

Há cerca de um ano, de regresso da ComicCon PT, entrei em contacto com a Saída de Emergência para lhes propor uma BD para a revista Bang!

A minha relação com a Saída de Emergência já vem de 2012, quando me convidaram para ser o artista em destaque numa das edições da Bang! e desde aí fomos mantendo o contacto, particularmente com a Safaa Dib, que foi fundamental para esta BD ver a luz do dia.

Fundamental também foi a colaboração do talentoso e super ocupado André Oliveira, que aceitou o meu desafio para escrever uma historia interessante e empolgante com apenas 6 páginas e em menos de um mês. A peça seguinte do puzzle foi a inclusão da Patrícia Furtado na equipe. O trabalho de cores ajudou a cimentar o ambiente necessário á historia.

O resultado foi este Diavol, uma versão alternativa ao fim de vida de um personagem real, o alfaiate Franz Reichelt. Partindo da morte do alfaiate austríaco, radicado em França, Diavol conta a historia do que levou ao acto meio tresloucado de Franz, e o terrível segredo pro trás daquele que foi um dos primeiros eventos públicos filmados e registados para a posteridade. (Para melhor visualização da BD, sugiro que escolham a opção full screen no visualizador.)

 

Podemos testemunhar o infeliz fim do inventor no seguinte video:

– Pedro