Duas semanas de uma vez, ou seja… «esta quinzena». A balda da semana passada não foi por falta de assunto, e também não me vou armar em coelhinho da Alice e dizer que foi por falta de tempo, já que a semana teve exactamente a mesma quantidade de horas que as anteriores. Não, não foi por falta, mas sim por excesso. Excesso de emails, e trabalho e deadlines, excesso de consultas, aulas pré-parto e imagens de quartos de bebé no Pinterest. Também excesso de coisas boas, como cinema, noites de jogatana ou café com as amigas para pôr a conversa em dia. Acima de tudo, um excesso de coisas a acontecer nos próximos três meses que deixam a minha cabeça à velocidade de um iPhone4 no qual se instalou o sistema operativo do iPhone10: está muito lenta e fica sem bateria num instante, portanto.
Venham então as novidades.
Dream job
Chega amanhã às livrarias a primeira capa que ilustrei para a colecção infantil da Alice Vieira, a 32ª edição (!) do maravilhoso Rosa, minha irmã Rosa.
Pode dizer-se que é um trabalho de sonho, embora eu saiba bem que a Patrícia de 10 anos, que passava a vida enfiada nos livros da Alice Vieira, não sonhava que a viria a conhecer e ainda menos ser autora das capas dos seus livros. Mas estar refastelada no sofá a um dia de semana, enrolada numa manta com uma caneca de chá, a reler o «Chocolate à Chuva», e poder dizer, com toda a honestidade, que estou a trabalhar… Sei reconhecer a sorte que tenho na vida.
O mercado infanto-juvenil é onde me sinto simultaneamente mais confortável e mais desafiada. Confortável, porque me recuso a aceitar os meus quarenta anos, (perdão, quarenta e um) e continuo a ver-me como uma miúda, com gostos de miúda. Desenhar bonecada é o que gosto realmente de fazer. Desafiada, porque depois de tanta ilustração para esta classe de livros, é difícil não me repetir, tentar manter “o meu estilo” (o que quer que isso queira dizer) e ao mesmo tempo fazer algo diferente do que está para trás. Talvez por isso, e por me sentir esmagada pelo peso da responsabilidade de fazer as capas de livros tão acarinhados por várias gerações, esta foi, de todas as capas que alguma vez fiz, a que me demorou mais. (Felizmente, estou a trabalhar com a editora mais compreensiva e paciente do mundo. Mais uma vez, sei reconhecer a minha sorte, tenho trabalhado com editores fantásticos.)
Por isto tudo, estou muito feliz de a ver impressa, a saltar para as mãos de tantas crianças para as quais esta vai ser “a capa”. E siga para bingo, que ainda tenho mais umas duas dezenas de capas para fazer.
Nomeação para os prémios SPA
Por falar em editoras fantásticas e notícias que me deixam feliz… Depois de tantos anos a trabalhar com Rosário Alçada Araújo, editora, ilustrei finalmente um livro da Rosário Alçada Araújo, escritora. Lançámos «Num tempo que já lá vai» em Setembro, e acabam de anunciar que é um dos três nomeados para Melhor Livro Infanto-Juvenil no Prémio Autores 2018, atribuído pela SPA. É a minha primeira nomeação para o que quer que seja, e ainda por cima por um livro com uma história tão bonita e que tanto gostei de ilustrar.
Os outros livros nomeados nesta categoria são «O Museu do Pensamento» de Joana Bértholo, com ilustração de Pedro Semeano e Susana Diniz, da Caminho e «Poemas para as quatro estações» de Manuela Leitão, com ilustração: Catarina Correia Marques, da Máquina de voar. Os prémios serão entregues numa gala a decorrer no dia 20 de Março no Grande Auditório do CCB, e a transmitir em directo pela RTP2. Consultem aqui a lista com todos os nomeados.
Menos é mais
A propósito de prémios, está na altura de correr às salas de cinema para ver os nomeados aos Oscars. Ou então nem por isso, que há filme de super-heróis em cartaz, e por estes lados não se falha um. (À excepção da Liga da Justiça, já que o Pedro se recusa a aceitar aquela versão do Flash.)
O Pantera Negra parecia, à partida, diferente dos restantes filmes de super-heróis: há algo de refrescante na concept art e belíssimo guarda roupa desenhados à volta do afro-futurismo; o elenco, quase todo afro-americano, é magnífico; é bom sentir a força e importância que deram às personagens femininas; tudo isso nos faz pensar que estamos perante algo de verdadeiramente diferente. Ao chegar ao ao fim, no entanto, essa impressão já se diluiu, perdida na enxurrada de efeitos especiais, realização frenética e história previsível que faz com que todos os filmes da Marvel Studios pareçam mais do mesmo.
Para restaurar o equilíbrio, fomos ontem ao CCB ver uma obra prima com cinquenta anos, o Aconteceu no Oeste. Paisagens amplas, planos longos, enquadramentos perfeitos, música genial… foi uma autentica aula de composição e timing. Nada ali é deixado ao acaso. Chegámos ao fim sem saber para onde correram as quase três horas de duração do filme, e com vontade de emoldurar umas quantas frames para as nossas paredes. Eu sei, é super injusto sequer comparar um filme como o Pantera Negra ao mais reverado de todos os westerns, mas, na altura, o spaghetti western também era tido como uma categoria menor do cinema, e não só não ganhou, como nem sequer foi nomeado para o Oscar de melhor cinematografia. Nem para Oscar nenhum, de onde se percebe que a cerimónia já é pateta há pelo menos cinquenta anos.
Workshop de BD na Gateway
A Gateway City Comics convidou-me para dar dois workshops de BD para a miudagem nas suas instalações em Alcântara. Divididos em dois grupos, dos 6 aos 9 anos e dos 10 aos 12, vamos inventar personagens, imaginar histórias, desenhar muito e acabar as quatro sessões com um pequeníssimo livro de Banda Desenhada.
Vai decorrer no mês de Março, e no momento em que escrevo isto, ainda há algumas vagas para cada uma das turmas. Saibam mais aqui.
O cavalo de Tróia é um gato Maltês e outras histórias
Depois de muito nos provocar com os seus anúncios de datas de anúncios, lá chegou o dia de saber a nova localização do Trojan Horse was a Unicorn, e a resposta foi, como já era esperado, Valetta, em Malta. Pessoalmente, faz-me pouca diferença, já que, com um bebé de quatro meses, eu sabia que este ano não querer participar. Já foram anunciados alguns nomes de peso, como Joe Madureira e Jorge R. Gutiérrez, e tenho a certeza que vai ser épico, como sempre. Mas deixa-me muito triste ver um evento destes sair de Portugal.
Ainda na categoria de eventos a que vou ter de faltar este ano, fiquei a saber que o Urban Sketchers Symposium este ano está de regresso a Portugal, e vai ter lugar em Julho, no Porto. Participei na segunda edição deste evento dedicado ao desenho ao ar livre, que aconteceu em Lisboa em 2011, e adorei a experiência. As inscrições já estão abertas, e se eu pudesse estava lá caída, especialmente porque o Porto tem tantos sítios bonitos para se desenhar.
A quinzena foi fértil em anúncios, mas finalmente, a coisa correu bem para o meu lado. A organização da ComicCon PT veio confirmar os rumores de que o evento deste ano se vai realizar cá em baixo, e embora eu tenha gostado da nossa peregrinação anual ao Porto nos últimos anos, confesso em 2018 me vai dar jeito. Como era de esperar, anda aí meio mundo a reclamar, ainda para mais quando o espaço escolhido é o Passeio Marítimo de Algés, ao ar livre, e o modelo vai ter de ser obrigatoriamente adaptado. Eu faço parte do outro meio mundo, o que ficou contente com a notícia, porque não me apetece mexer o traseiro.
CrossOver
Além dos artigos semanais sobre ilustradores de referência aqui no estaminé (esta quinzena, um sobre Mead Schaeffer e outro sobre a A BrandyWine School), o Pedro acaba de publicar um artigo sobre a passagem do Overwatch para BD, na sua rubrica CrossOver no site da Gateway City Comics. Há pessoas aqui no Abelardo que contribuem mais do que outras…
Uma boa semana (ou quinzena, quem sabe) para todos!
– Patrícia