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Maxwell Coburn Whitmore

Coby Whitmore foi um dos mais proeminentes ilustradores comerciais do meio do século 20.

Nascido em Dayton, Ohio onde frequentou o Dayton Art Institute, tendo mais tarde migrado para Chicago onde frequentou o estúdio de Haddon Sundblom e o Chicago Art Institute, enquanto trabalhava para o Chicago Herald.

Por volta da década de 40, Whitmore e alguns colegas questionavam a corrente estética da ilustração usada na época e procuraram novas formas de representação, retirando excessos de acessórios e iluminação, e acentuando as formas das figuras enquanto reduzindo o peso dos cenários e paisagens.

Ao remover todos os elementos que,  a seu ver, subjugavam e controlavam a figura, Coby Whitmore procurava focar-se mais nas subtilezas das relações humanas e nos momentos íntimos entre os personagens.

Em 1942 mudou-se para Nova Iorque para trabalhar no estúdio Charles E. Cooper.

Criado em 1934, resultado da parceria entre o ilustrador Jon Whitcomb e Charles E. Cooper, o estúdio rapidamente ganhou fama e veio a revolucionar o estilo gráfico da ilustração americana. Juntamente com Whitcomb, Maxwell Coburn Whitmore dominou grande parte do mercado, graças a uma grande produtividade de material de qualidade.

A atenção dada às figuras femininas, sempre centradas na acção, surge também das condicionantes técnicas, visto que no estúdio tinham optado por usar acrílicos invés de óleo, o que implicava que as imagens perdiam algum do seu volume. A composição e o foco nos personagens surgiram como solução para cativar o espectador. Fundos contrastantes, sombras fortes e uso de perspectiva forçada ajudaram a colocar o observador mais perto da cena, tudo isto foram técnicas usadas por Whitmore nas suas ilustrações da época.

Acima de tudo, o que define o estilo de Coby Whitmore são as suas mulheres e como eram apresentadas nas páginas da Ladie’s Home Journal, Cosmopolitan, McCalls e Good Housekeeping, representadas em todas as facetas da sua vida, sempre elegantes e sofisticadas, convidativas e atraentes. Como tal, algumas das suas ilustrações, especialmente de mulheres deitadas em poses lânguidas, estavam escondidas em interiores de revistas, devido a acusações de serem pouco apropriadas para os valores da altura.

Um artista eclético, Coby Whitmore declarou que os seus maiores interesses na vida eram “carros de corrida, ilustração e roupas finas em mulheres bonitas”, e foi com bastante entusiasmo que em 1950, juntamente com o piloto veterano da 2ª Guerra John Fitch, ajudou a conceber e depois pilotar um carro de corrida nomeado “The Fitch-Whitmore Le Mans Special”.

Nomeado por muitos como “a pessoa mais simpática que já conheci”, Maxwell Coburn Whitmore casou-se com a sua namorada de infância e tiveram dois filhos e uma filha. Eventualmente, retirou-se para Hilton Head na Califórnia do Sul.

Coby Whitmore foi uma das grandes influências para uma geração de lendários artistas de comics como John Buscema e John Romita Sr..  

Em 1978 foi agraciado na Society of Illustrators que o descreveram como “um homem arrojado, com uma queda por fatos brancos e um deleite infantil em todas as coisas. Um homem de genuína humildade, ele parece realmente não saber o quão bom é!”.

 

 

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Dean Cornwell e a idade de ouro da ilustração americana

Recentemente tenho ocupado os meus parcos tempos livres a pesquisar pintores e ilustradores dos quais só conhecia uma ou duas obras, mas ignorava a maior parte do trabalho. Do meu interesse já resultou uma viagem a Londres para ir ver em pessoa, algumas obras de John Singer Sargent  e de John William Waterhouse (o mesmo do quadro das ninfas, sim).

Apesar de ter uma admiração enorme por Norman Rockwell, de uma forma geral desconhecia a maior parte dos outros artistas seus contemporâneos, portanto comecei a procurar (re)descobrir alguns ilustradores e pintores da fase de ouro da ilustração americana.

Dean Cornwell foi um pintor Norte-Americano nascido em 1892, e dominou grande parte do campo da ilustração e da pintura mural durante a sua carreira.

Começou a sua carreira como cartunista no Louisville Herald, tendo-se mudado, em seguida, para Chicago, onde estudou no Chicago Art Institute enquanto começou a colaborar com o Chicago Tribune. No instituto, Cornwell conheceu e estudou com o proeminente professor Harvey Dunn, a quem se juntou quando este se mudou para Nova Iorque para formar um estúdio-escola. Eventualmente, o sucesso de Dean Cornwell fez com que a sua carreira disparasse ele acabasse por desenvolver o seu próprio estilo.

Na altura Dean Cornwell colaborou com todas as principais revistas nos Estados Unidos, tendo produzido trabalhos para Cosmopolitan, Harper’s Bazaar, Redbook, e Good Housekeeping, entre outras. Em 1926, assinou um contrato a longo termo com a revista Cosmopolitan pela quantia astronómica, à época, de 100.00 dólares anuais. Era uma presença assídua na ilustração americana no início do século 20, contribuindo ainda com imagens para as obras de Pearl S. Buck, Lloyd Douglas, Edna Ferber, Ernest Hemingway, W. Somerset Maugham e Owen Wister. A sua popularidade levou a que lhe dessem a alcunha de Dean of Illustrators.

Por volta de 1927, Dean Cornwell decidiu estudar e produzir pinturas murais e para esse efeito viajou para Inglaterra, onde estudou com o famoso muralista Frank Brangwyn durante três anos. Quando regressou aos Estados Unidos, Cromwell pintou um mural para a Biblioteca Pública de Los Angeles, uma pintura gigantesca que conta a história da Califórnia e demorou 5 anos a ser acabada. Pintou ainda murais em Nova Iorque, no edifício das Eastern Airlines (hoje o 10 Rockefeller Plaza), o Raleigh Room no Hotel Warwick, e o mural da General Motors na Feira Mundial de  1939. Também pintou a sede da New England Telephone (agora Verizon) em Boston, o Davidson County Courthouse e o Sevier State Office Building no Tennessee, assim como o Centre William Rappard em Geneva, na Suíça. Cornwell afirmou que nunca fez muito dinheiro na sua carreira como muralista, e que sempre que precisava de dinheiro, retomava a sua carreira como ilustrador.

Dean Cornwell ensinou na Art Students League em Nova Iorque e foi presidente da Sociedade de Ilustradores de 1922 até 1926. Recebeu vários prémios pelos seus trabalhos e a sua pintura “Washing the Savior’s Feet, inicialmente encomendada para a revista Good Housekeeping, foi aceite na exposição da Royal Academy Britânica. Em 1940 foi aceite como académico na National Academy of Design, depois de um período como associado, e foi presidente da Sociedade Nacional de Pintores de Murais.

Em 1959 entrou no Hall of Fame da Sociedade de Ilustradores.

Dean Cornwell morreu em 1960, tendo deixado um legado de milhares de obras, entre ilustrações, pinturas e murais para os mais diversos meios.

Bonus: O artista Francis Vallejo disponibilizou uma colecção de scans de varias revistas ilustradas por Dean Cornwell, vale bem a pena. Dean Cornwell- magazine scans

 

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Esta semana #02

Quando, em 2017, decidimos fugir ao Carnaval e ir a Londres ver a exposição do David Hockney, aproveitámos para dar uma corrida à sala dos Pré-Rafaelitas na Tate Britain. Tínhamos um jantar combinado para dali a pouco, pelo que foi mesmo em sprint, mas deu para nos lembrarmos do quanto apreciamos este movimento e esta época particular da história da arte — na realidade, tudo me fascina na Inglaterra do séc.XIX, não apenas a arte.

Assim sendo, na ressaca da festa de fim de ano, decidimos que iríamos celebrar o meu aniversário com uma viagem (em vez da previsível festarola), e passámos o primeiro dia de 2018 a planear uma escapadela low-cost a Londres com direito a ver os Pré-rafaelitas sem pressa. Esta semana que passou resumiu-se então a trabalhar, trabalhar, trabalhar e contar os dias para apanhar o avião daqui para fora.

Tate Britain

Aterrámos quinta à noite e sexta de manhã já estávamos à porta da Tate Britain, onde se podem encontrar os maiores tesouros desta altura. Pelo que percebemos pela multidão, a nossa sala preferida desta galeria imensa é também a sala preferida de toda a gente. Ainda assim pudemos apreciar calmamente algumas das obras mais icónicas de Millais, Rossetti, Hunt, Burne-Jones, e os já posteriores, mas igualmente maravilhosos, Waterhouse e Singer Sargent.

Tate Britain

Ainda aproveitámos para revisitar a ala do Turner, mais um artista rebelde, e passar algum tempo na sala das aguarelas e sketchbooks de viagem: tudo fascinante.

Turner Sketchbook

The National Gallery

A segunda paragem na nossa demanda foi na National Gallery, onde estava patente a exposição Reflections. Van Eyck and the Pre-raphaelites sobre a influência que o retrato do Casal Arnolfini (Jan van Eyck, 1434) teve nos Pré-rafaelitas quando foi adquirido e exposto em Londres pela primeira vez. Apesar de alguma pesquisa antes da viagem, não nos tínhamos apercebido desta exposição fabulosa. Foi uma coincidência muito feliz, e acabou por ser a única exposição temporária da viagem.

Victoria and Albert Museum

O último destino da nossa volta aos Pré-rafaelitas era o V&A, onde esperávamos encontrar sketchbooks do Waterhouse e alguns exemplos raros de fotografia Pré-rafaelita. Não os conseguimos descobrir, mas valeu a pena pelos quadros (e alguns esboços preparatórios) de Millais, Rossetti e Burne-Jones, e em particular pela tela Pizarro Seizing the Inca of Peruainda com muito pouco de Pré-rafaelita por ter sido pintada por Millais aos 16 anos.

O V&A vale sempre a pena, de qualquer maneira. É uma espécie de museu de museus, surpreendendo-nos a cada sala com temas diferentes. Ora vitrais e trabalho em prata da idade média, ora cartazes e trajes de produções teatrais e maquetes detalhadas de palcos e cenários. Ora gigantes réplicas em gesso de obras de escultura monumentais, ora detalhadíssimos retratos em miniatura. Ora pintura inglesa, ora quimonos, espadas e armaduras de samurais. Ora escultura clássica, ora aguarelas da Beatrix Potter. Isto para não falar de uma exposição temporária do Winnie the Pooh que já estava esgotada ao fim da manhã de Sábado – e pensar que estávamos lá desde cedo e não nos ocorreu ir logo comprar bilhetes!

Compras

Este seria o parágrafo em que vos falaria da quantidade enorme de livros que trouxemos de lá mas, hélas!, não comprámos nem um. Viajar apenas com mala de cabine tem destas coisas, e para quê carregar com o peso se podemos encomendar online? Por isso, voltámos de Londres com uma wishlist comprida, cuidadosamente recolhida dos livros folheados na Foyles, na Forbidden Planet e na óptima livraria da Tate. (Desculpem-nos, queridas livrarias, se os livros fossem mais leves, tínhamos deixado aí todas as nossas libras…) Em particular na Tate Britain, fiquei enamorada destes livros todos.

Livraria da Tate Britain

O que trouxemos então na mala? Chilli flakes e sal fumado do Borough Market e roupa miniatura, devidamente geek, para o pequeno feijão que andou a calcorrear Londres confortavelmente instalado na minha barriga. Novas prioridades…

Também não comprei o espelho convexo que a National Gallery tinha na loja, porque era pequeno e caro e dificilmente chegaria a Lisboa intacto (e depois, os sete anos de azar!). Mas a exposição deixou-me com uma pequena obsessão por espelhos convexos, e tenciono andar à caça de um nos próximos tempos. Feira da Ladra e antiquários, esperem por mim!

Curtinhas
  • Ok, só uma curta: Saíu no público um artigo sobre “Um tempo que já lá vai”, o livro escrito pela Rosário Alçada Araújo e ilustrado por mim (clicar para ler).
    Num Tempo Que Já Lá Vai

 

Obrigada por todas as mensagens de aniversário que foram chegando por FaceBook, WhatsApp, sms e telefone. Estou muito contente por já não ter 40 anos. Chamem-me maluca.

Foi um dia passado em trânsito. hoje já é uma segunda-feira normal e temos pela frente uma semana cheia de trabalho e reuniões. Novidades em breve!

Janela do Avião

Boa semana!

– Patrícia