O ano passado, num daqueles dias de Verão perfeitos na praia de S. João, durante uma caminhada à beira-mar, lembrámo-nos do Abelardo. Do gato Abelardo.
Em 2015, tínhamos visitado o Saló Internacional del Còmic de Barcelona, tendo ficado alojados num AirBnb na zona da Gracia. Ficava num prédio antigo, sem elevador, com escadas íngremes e apertadas – um pesadelo de subir com ou sem malas. Ao chegar ao topo éramos, porém, recompensados com um apartamento simpático e cheio de vida, de paredes repletas de postais e fotografias, estantes carregadas de livros e souvenirs de outros viajantes e, acima de tudo, uma luz maravilhosa. A cozinha, então, era particularmente luminosa e convidava a ficar em volta da mesa, à conversa com o Xavi e a Laura, e ignorar a cidade que estava lá em baixo a chamar por nós.
E depois entrava altivo, por ali a dentro, o verdadeiro dono da casa, o Abelardo. Cor-de-laranja riscado, com pelo comprido e idade avançada, tinha vindo com o Xavi de Buenos Aires para a Europa, e como bom gato que era, autorizava-nos a pernoitar no seu espaço, mas não sem antes invadir o quarto, inspeccionar as bagagens e manter cuidadosa vigilância dos ires-e-vires do corredor.
“Abelardo, que grande nome!”, comentámos naquele dia na praia, ao relembrar o nosso abelhudo senhorio. “Era um nome mesmo bom para… bom, para qualquer coisa.” “Edições Abelardo, que tal?”
Isso. Edições Abelardo. A praia é um sítio mesmo bom para ideias parvas.